Aqui a inclusão é respeitada!!!

Em um mundo diverso, nada mais óbvio que respeitar as diferenças!!

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Em um mundo diverso, nada mais óbvio que respeitar as diferenças!!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ARTIGO: INCLUSÃO: UMA QUESTÃO DE VIDA

 Vivemos em uma época, onde as relações humanas tendem massificar a identidade e personificação dos sujeitos. Considerar o homem na sua diversidade e respeitar suas diferenças, tem sido um desafio merecedor de destaque. Este artigo tem como objetivo a reflexão de fatos que estão fortemente ligados à inclusão de uma parcela social considerável de diferenças.


Como ser humano e cidadão você tem como fundamental direito saber que existem mediamente 500 milhões de pessoas com alguma deficiência (adquirida ou não) no mundo, totalizando um décimo da raça humana. Desses, 80% “vivem ou sobrevivem” em paises em desenvolvimento. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) essa população subiu de 10 para 15%.
Em se tratando de Brasil, um país em pleno desenvolvimento, os dados do Censo Demográfico do IBGE nos revela que 24,5 milhões de brasileiros possuem alguma deficiência, o que representa 14,5% da nossa população. E ainda mais: três pessoas por dia adquirem alguma outra deficiência, vítimas de acidente de trânsito ou de trabalho, assaltos com armas de fogo, entre outros fatores imprevisíveis aos “ditos normais”. Pelo menos um terço de todas as deficiências poderia ter sido evitada ou curada. Centenas, ou milhares de crianças desnutridas dão passos largos a alguma deficiência. Pessoas tornam-se cegas graças às faltas de condições para se realizar cirurgias de cataratas. Etc., etc. e etc.
É considerável a questão de que estatísticas são casuais, momentâneas e revelam que, neste exato momento, muita coisa aqui dita já se modificou. Interessante que sempre é para mais.
Então, agora você pode se questionar... Onde estão essas pessoas?
Reflita um pouco. Qual foi a última vez que você viu um cego? Foi pedindo esmolas (como nos mostram alguns filmes), ou trabalhando em uma nomeada empresa? Você costuma associar a idéia de incapaz a uma pessoa que não anda com as próprias pernas? Já pensou assistir um telejornal e não entender o que está sendo dito? Você seria capaz de contratar um funcionário usuário de cadeira de rodas em sua empresa, mesmo sem saber da reação de seus clientes?
Caso as suas respostas foram imprecisas, não se espante, não se culpe. Você ainda faz parte de uma sociedade preconceituosa e coberta por paradigmas. Em todas as partes do Brasil (como também no mundo), as pessoas deficientes estão entre os mais desfavorecidos socialmente, pois, a elas ainda é negado o acesso a alguns edifícios, à informação, à independência, à escolha de oportunidades e o controle sobre sua própria vida.
Percorrer pelo caminho da história da deficiência e suas várias representações sociais, é uma forma de entender porque estes indivíduos foram afastados de nosso convívio.
Pode até chocar saber que pessoas ao nascerem diferentes ou deficientes eram mortas, abandonadas, sacrificadas, chamadas de monstruosas, imbecis, etc. Porém, após esta concepção de exclusão, segue-se um período de segregação de tais pessoas em instituições e escolas especiais, em que se tinha como preocupação diagnosticá-las, classificá-las e confiná-las em uma vida a parte, longe dos outros, sem expectativas, sem muitas esperanças. Daí, a exclusão passa apenas por uma modificação de ponto de vista: de física, torna-se social.
A esses fatores podemos ainda acrescentar a desinformação. A começar pela palavra DEFICIÊNCIA, que no Dicionário Aurélio quer dizer: “falta, carência, insuficiência”, o que consequentemente leva a definir que o DEFICIENTE é aquele que sempre estará à margem dos primórdios vitais para qualquer ser humano.
Convivi com famílias que procuravam esconder os filhos deficientes dos amigos e da sociedade. Pais e parentes próximos se revoltavam com o mundo ao saberem que um filho, ou irmão, ou quem fosse, tinha nascido ou adquirido alguma deficiência. Lembro-me que quando vi e sentei pela primeira vez próximo a uma criança com Síndrome de Down (e eu também era criança) em um hospital, meu sentimento era de medo, nojo e uma enorme vontade de sair de tal lugar e me sentar bem longe dele. Coisas de crianças? Pode até ser que sim. Daquelas desinformadas, acostumadas a viver em seu mundo dos “normais”.
Diante de tudo isso e outras coisas mais, não mencionadas aqui, mas que vemos, lemos e sentimos diariamente concernentes ao tema em questão, vivenciamos uma nova proposta de ordem social, e primeiramente educativa para estas pessoas. Começando pela nomenclatura, tanto quanto pejorativa para muitos. Por convenção adotaremos então: pessoas com necessidades educacionais especiais (PNEE).
Foi nos anos 70 que se iniciou uma nova fase, em que a preocupação se centra na inserção destas pessoas na sociedade, com vistas a dois conceitos que se desenvolvem concomitantemente, mas com formas diferentes de fazê-la: a integração e a inclusão.
Segundo Mantoan (1997): A integração traz consigo a idéia de que a pessoa com deficiência deve modificar-se  segundo os padrões vigentes na sociedade, para que possa fazer parte dela de maneira produtiva e, consequentemente ser aceita. Já a inclusão traz o conceito de que é preciso haver modificações na sociedade para que esta seja capaz de receber todos os segmentos que dela foram excluídos, entrando assim em um processo de constante dinamismo político social.
Considerando o campo educacional, por se tratar da instituição norteadora e construtora da sociedade, estes dois conceitos têm refletido um novo direcionamento para as mudanças almejadas.
Porém, adotemos a inclusão, por ser uma opção, embora compatível com a integração, mas que movimenta e questiona políticas, organizações das estruturas escolares regulares e especiais, sendo meta principal não deixar ninguém no exterior da escola regular, e, por conseguinte, marginalizado da vida. A inclusão tem um caráter de reunir alunos com e sem “dificuldades”, funcionários, professores, pais, diretores, enfim todas as pessoas envolvidas na educação. Sua metáfora é o caleidoscópio: O caleidoscópio precisa de todos os pedaços que o compõem. Quando se retira pedaços dele, o desenho se torna menos complexo, menos rico. As crianças se desenvolvem, aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico e variado. (Mantoan, 2003)
Nesta nova perspectiva de pensamento e ações, asseguro-me que meus filhos, e talvez os seus não terão as mesmas reações que tive em minha infância frente a realidade já exposta. E ainda, responderão de maneira menos angustiantes aos questionamentos apontados no inicio de nossa conversa.
Então, pense: o mundo proporciona às PNEE’s condições materiais, legais, econômicas, políticas, educacionais, de viverem em pé de igualdade com as que aparentemente são “normais”? O seu prédio tem elevador com os números em sistema Braille? O caixa de seu banco é mais baixo, na altura compatível para quem usa cadeiras de rodas? O banheiro de seu clube é adaptado com barras de apoio, portas largas e vaso sanitário mais alto? O ônibus coletivo tem plataforma elevatória ou entrada com o mesmo nível da calçada? E a sua escola, ou aquela que você estabeleça algum vínculo, garante o devido acesso a essas pessoas?
A idéia de inclusão não está muito distante de você. Ela parte do que há de mais comum entre a sociedade: as potencialidades e a diversidade do ser humano.  As pessoas são naturalmente diferentes, e se assim não fosse, estaríamos propícios a viver de forma monótona, sem perspectiva de desenvolvimento e crescimento.
No contexto escolar, mesmo antes que se pensasse assim, nunca houve e jamais haverá uma turma de alunos em que todos apresentem as mesmas aptidões, as mesmas capacidades, as mesmas afinidades, a mesma predisposição para adquirir e desenvolver aprendizados. Cada um com a sua forma de compartilhar e receber de forma significativa  conhecimentos.
Por vezes, não se aposta na inclusão, por ser ela algo que ainda não aconteceu (em sua totalidade). Ainda se referindo a Mantoan (1997),. as grandes inovações estão, muitas vezes, na concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e aceito sem outras resistências, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
Efetivamente, uma mudança desta envergadura, não é um processo fácil, pois implica toda uma nova filosofia do contexto de aprendizagem, uma flexibilização da organização curricular, das estratégias de ensino, da gestão dos recursos a fim de proporcionar um desenvolvimento maximizado de todos os alunos, de acordo com suas necessidades individuais e potencialidades.
Obviamente, os primeiros momentos de adaptação podem ser muito complexos e dolorosos, mas com certeza um dia eles passam... Depende da capacidade caleidoscópica de cada ser humano em encarar a vida como ela se apresenta. Ser forte é compreender a condição da imperfeição. Viver em uma sociedade de preconceitos e desequilibrada é uma questão de escolha e acomodação. Proporcionar a vida a alguém está longe de sobrevivência. Conviver com o diferente, ser aceito e aceitar o outro como ele é, reflete em respeitar o planeta da forma como foi criado: diverso.

Escrito por Weslley Fernandes Paiva, em julho de 2004.